sábado, 26 de abril de 2008

Mercantilização da Extensão Universitária

Ananda de Carvalho¹
Jaciele Carine Sell¹
Carlos Alberto da Rosa Maciel²


A UFSM apesar de seu papel como instituição federal pública de educação vem demonstrando, através da medida de permuta do prédio de apoio, pouco caso a respeito do ensino, pesquisa e extensão. Esses que são, pelo menos, itens básicos de sustentação de uma instituição que se reconhece por Universidade.
Presenciamos atualmente uma forte crise da Educação Brasileira, que cada vez mais fica distante de beneficiar a sociedade e tornar-se transformadora, libertadora, ou seja, popular. Nossa Educação está obedecendo às regras do mercado e esquecendo de formar cidadãos. Por isso os cursinhos populares Práxis e Alternativa tentam construir uma nova forma de Educação, respeitando as diversidades, valorizando o indivíduo e orientando-o a ter mais consciência da realidade. No entanto, precisamos somar forças e para isso é necessário que a Universidade também esteja do nosso lado na transformação, lutando por uma educação de sujeitos ativos e não receptores passivos.
O Pré-Vestibular Popular Alternativa constitui-se em um projeto de extensão da UFSM e tem por objetivo principal, oferecer uma preparação para ingresso no ensino superior a pessoas de baixa renda. Seu diferencial em relação aos outros pré-vestibulares é de proporcionar aos estudantes, atividades extras que contribuam para construção da cidadania e construir uma reflexão crítica da sociedade atual. Neste ano, o projeto conta com uma verba do governo federal – Ministério da Educação (MEC) – através do Programa Inovador de Cursos; por meio deste, já estão sendo realizadas algumas oficinas com os estudantes e educadores do projeto, e ainda estão previstas outras varias atividades, dentre elas, duas viagens de estudos.
Alem disso, o projeto tem como outro objetivo, oportunizar os estudantes de graduação e pós-graduação da UFSM o contato com a sociedade, exercendo as atividades que são expostas teoricamente em sala de aula; podendo estudantes de diversos cursos colaborar como o projeto. É desta maneira que compreendemos o quão necessário é esta atividade de extensão, este contato da universidade com a comunidade o quanto é fundamental manter o espaço físico do Prédio de Apoio para melhor desenvolvimento deste tipo de atividade.
Outro projeto de extensão da nossa universidade que atua também no segmento educacional é o Práxis Pré-Vestibular Popular. As atividades realizadas nesse coletivo de educação tem como plataforma básica a preparação de trabalhadores e filhos desses para as provas dos vestibulares de Santa Maria. Esse projeto extensionista funciona no 4° andar do prédio de Apoio Didático e Comunitário da UFSM, localizado na rua Floriano Peixoto, ao lado da Secretaria de Saúde. No Práxis, além das aulas voltadas para o vestibular, são desenvolvidas também atividades extra classe, como: Oficina de Economia Solidária, onde são confeccionados produtos de chocolate (alfajores, bombons) para ajudar na compra de vale transportes de alguns educadores e educandos do projeto e um Teatro Popular, na qual são realizadas peças que encenam obras indicadas para o vestibular da UFSM. Nesse espaço existe também salas interdisciplinares onde são desenvolvidas atividades em conjunto com as disciplinas (levando em consideração que a prova do vestibular da UFSM é articulada dessa forma com os diversos conjuntos de conteúdos) e uma biblioteca popular, que comporta diversas obras literárias, sendo que a maioria delas foram doadas pela população santamariense, que compreende muito bem a importância do projeto. No Práxis funciona também um arquivo de movimentos sociais, onde são arquivados diversos panfletos e informativos relacionados ao movimento sindical, estudantil, de luta por terra, por moradia, entre outros.
Segundo o artigo 207 da Constituição Brasileira, “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.” É com base nesse artigo que as universidades brasileiras mantém esse tripé tão essencial para a consolidação de uma educação de qualidade e socialmente comprometida com a demanda social.
A extensão universitária é uma forma de ampliar a relação universidade-comunidade. Essa relação deve ser entendida como fator principal na questão do aprimoramento das pesquisas científicas voltadas ao cotidiano das pessoas. É com essa relação estreitada que os estudantes universitários se sensibilizam e compreendem a verdadeira função da universidade, que é a construção de um instrumento educacional que dialogue com a comunidade na qual está inserida, de forma a contribuir e, principalmente, respeitar as individualidades culturais existentes em cada setor dessa população. Esse envolvimento do setor universitário com as mais diversas camadas populares contribuem no sentido de sociabilizar o conhecimento aprendido na faculdade e fazer com que os futuros profissionais conheçam a realidade existente, rompendo os “muros” institucionais das universidades.
Com essa preocupação, é que nós defendemos a luta por uma universidade pública e verdadeiramente comprometida com a realidade social de nosso país. Logo, somos contra a venda do prédio de Apoio Didático e Comunitário da UFSM, pois compreendemos que sem esse importante “braço” da nossa universidade, esses projetos populares e construtores de indivíduos politicamente comprometidos não poderiam existir de forma a atuar como membros efetivos na tarefa de construir uma educação libertadora, popular e democrática.



Provérbio chinês de 4 mil anos A.C.
“Se decoro, esqueço,
se vejo, lembro-me
se faço, aprendo.”


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¹Educadoras do Alternativa Pré-vestibular Popular
²Educador do Práxis Pré-vestibular Popular

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