segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Atividades

O Práxis - Coletivo de Educação Popular, reuni-se todas ás segundas-feiras ás 20 horas e nas sextas-feiras ás 19 horas, para debater sobre a educação brasileira e popular e suas imbricações na sociedade.

Este ano o projeto do Práxis será reformulado, dessa forma seus educandos, juntamente com a coordenação do coletivo estão promovendo debates, com o intuito de melhorar ainda mais, não só as aulas, mas também a sua legitimidade perante os seus públicos e sociedade santa-mariense.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Educação Popular e o Combate ao "estranhamento" do Trabalho.


Texto produzido por: Marcelo Noriega.
Licenciado e Bacharel em História pela UFSM.
Coordenação do Práxis.

Não sois máquinas!
Homens é que sois!


Para que possa passar a mensagem que pretendo com mais esta contribuição é necessário que faça um breve resgate da literatura marxista sobre o tema que proponho a reflexão a seguir: o tema em questão é o estranhamento do trabalho, colocado aqui sem aspas para explicitar o seu sentido concreto segundo os ideólogos marxistas. Desde já me coloco como tributário da ideologia marxista, por acreditar que esta é a única capaz de explicar a sociedade capitalista e propor a superação da mesma.
Entrando mais precisamente à definição do termo estranhamento do trabalho gostaria de resgatar conceitos marxistas clássicos sobre a temática. Segundo a elaboração desenvolvida por Marx e Engels podemos definir o estranhamento do trabalho como a incapacidade de o trabalhador em se diferenciar do fruto de seu trabalho, ou seja, o trabalhador-proletário acaba não se diferenciando da estrutura fabril não reconhecendo o que foi produzido como fruto de seu trabalho. Desta forma o trabalhador acaba por negar a sua essência enquanto homem e acaba por se compreender mais como uma parte da engrenagem do que como um ser humano. O filme de Charles Chaplin “Tempos Modernos” nos mostra como que esta relação pode chegar ao extremo de não o homem operar a máquina e sim a máquina operar o homem.
Trazendo um pouco para o cotidiano do Rio Grande do Sul podemos perceber esta relação de estranhamento do trabalho inclusive nas relações produtivas mais tradicionais como a relação entre os peões de estância e a estrutura produtiva rural. Conversando recentemente com um trabalhador rural percebi que os peões, a exemplo dos operários fabris, também acabam por negar a sua essência enquanto seres humanos e acabam por se sentir como extensão do cavalo, como mais um animal do trabalho campeiro.
Se não analisarmos esta problemática com a devida atenção poderá se cair no equívoco de culpabilizar os próprios trabalhadores pela perda de sua essência de seres humanos, mas se analisarmos mais precisamente as relações sociais da sociedade capitalista perceberemos que toda a estruturação desta está voltada para que cada vez mais os trabalhadores se sintam apenas como um pedaço de uma engrenagem e não como seres humanos.
Não podemos deixar de citar que vivemos em uma etapa do Capitalismo onde a crescente precarização do trabalho tem sido uma realidade cada vez mais presente, portanto quanto mais os trabalhadores cumpram os seus deveres de forma mais eficiente, produtiva e barata melhor. É necessário que analisemos que esta estrutura não se reproduz por si só e que a mídia exerce um papel muito grande na manutenção e reprodução desta conjuntura. Poderíamos então citar o papel dos grandes conglomerados de comunicação como Grupo RBS, Globo e o “santificado” grupo Record. Vale lembrar que todos estes conglomerados estão presentes nas diversas mídias, comprovando assim que o monopólio da comunicação é uma verdade gritante e inconveniente em nosso país. Além disso, gostaria de rememorar o papel que não só o grupo RBS exerce no Rio Grande do Sul, mas que também entidades como o MTG e mesmo a literatura produzida sobre as relações e o papel do peão de estância. Onde este é apresentado como sendo o “centauro dos pampas”, sendo um ser bestializado que não se diferencia do seu pingo.
Podemos perceber que existe uma grande estrutura midiática voltada para garantir a reprodução da ordem vigente (termo que gosto de utilizar para definir não só a estruturação econômica capitalista, mas também todo seu aparato ideológico). Romper com esta lógica é uma necessidade cada vez mais urgente e necessária, pois se analisarmos a questão ambiental perceberemos que esta lógica de acumulação capitalista é cada vez mais insustentável.
Tendo em vista o que afirmei, qual deve ser o papel que a Educação Popular deve assumir nesta conjuntura de lutas cada vez mais necessárias? Acredito que a Educação, que se pretende, Popular deve assumir um papel de protagonista na construção de relações que visem a superação da ordem vigente. O espaço de relações dos diversos projetos de Educação, que se pretende, enquanto Popular se constituem em espaços privilegiados onde acadêmicos e trabalhadores interagem realizando trocas entre experiências de vida grandemente diversificadas.
Para que os projetos de Educação Popular realmente atinjam o êxito que seus executores almejam é necessário que não se desconsidere o enorme potencial que estes espaços de convivência possuem. Acredito que para que haja o aproveitamento de todo este potencial é necessário que exista de fato espaços democráticos entre educadores e educandos, rompendo assim com as velhas hierarquias entre professor e aluno. Estrutura esta de disciplinamento que acaba por se repetir nos diversos setores da estrutura capitalista. Além disso, a Educação Popular fomentar e participar dos debates promovidos por lutadoras e lutadores que pretendem construir espaços de economia não capitalista, como os diversos fóruns de Economia Solidária que cada vez mais acontecem no Brasil. O que não significa que necessariamente que os projetos de Educação Popular deverão construir experiências de Economia Solidária, mas que dentro da lógica de radicalização democrática e questionamento da ordem vigente é necessário que os referidos projetos realizem debates internos sobre a validade das práticas de Economia Solidária, para que ao menos haja uma posição e apoio das iniciativas de Educação Popular ás ações que visam a superação da ordem vigente. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Texto Produzido para a Jornada Acadêmica Integrada - JAI da UFSM

Autora:Lorena Miranda,acadêmica de Filosofia da UFSM e Coordenadora do Práxis.
Co- Autores :Marcos Corrêa Brito,acadêmico de Filosofia da UFSM e educando do Práxis.
                       Marcelo Noriega,licenciado em História pela UFSM e educando do Práxis.

INTRODUÇÃO:
 O Práxis – Pré-Vestibular Popular é um projeto de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal de Santa Maria, com onze anos de luta pela educação popular. Desde sua inauguração, o Práxis localiza-se na Rua Floriano Peixoto, nº1750 no 4º andar do Prédio de Apoio da UFSM. Inicialmente o Práxis dividia espaço com o curso de Licenciatura em História da UFSM, quando esse transfere suas instalações para o Campus de Camobi (Cidade Universitária). Dessa forma, o Práxis Pré-Vestibular Popular passa, a partir do ano de 2006 a ocupar a maior parte da estrutura física utilizada pelo curso. Formado por estudantes universitários, secundaristas e trabalhadores, portanto o Práxis Pré-Vestibular Popular tem como característica ser formado e construído por diversos setores do movimento estudantil e popular de Santa Maria e região, demonstrando assim a possibilidade de se construir projetos de educação popular onde considera-se em conta a pluralidade de ideias e visões de mundo. O referido projeto funciona basicamente como um curso pré-vestibular, ofertando vagas especialmente às pessoas de baixa renda da cidade e região que, por sua vez, não têm como financiar um cursinho que os prepare para o acesso ao ensino superior. É possível destacar no projeto, além da educação popular, a possibilidade para acadêmicos das mais diversas disciplinas ter seus primeiros contatos com a sala de aula, assim como promover debates e discussões sobre a democratização do ensino superior público. Busca-se desenvolver um espaço alternativo e criativo de experimentações e práticas voltadas à Educação como um todo. O Práxis tornou-se uma referência estadual entre todos aqueles setores interessados em construir e debater ciência, educação e conhecimento, comprometido sempre com os interesses das classes populares. Desta forma, o Práxis estimula o debate sobre a necessidade de superar a lógica de exclusão social e educacional presente na sociedade atual.

OBJETIVO
O Práxis procura abordar a educação sob a perspectiva da realidade social do aluno, proporcionando a este não só conteúdos propedêuticos, mas também provocando, nesse educando, um movimento em seus pensamentos. Busca-se a capacidade de redimensionar algumas das concepções pré-estabelecidas que a sociedade lhe impõe, como por exemplo, a ótica mercantilista que está presente nas  grandes mídias. Assim, a partir desse incentivo, espera-se produzir e realizar reflexões críticas não só do meio em que estão inseridos, mas também procurar diálogos e aproximações entre a universidade, os acadêmicos dos setores populares do município de Santa Maria e região, na busca de ampliar os horizontes conceituais. Dessa forma, o Práxis, não é apenas um projeto que procura promover seus educadores, mas, também necessariamente, constrói junto ao educando um espaço de formação social e educativa para que os educandos possam se reconhecer como sujeitos autônomos em suas escolhas e conscientes não só de seu deveres, mas, principalmente, de seus direitos como seres histórico-sociais, contestando-se, assim, metodologias de “educação bancária”. O Práxis tem como um de seus principais objetivos promover a relação de diálogo entre teorias e práticas educativas, pois esta é uma forma que possibilita que tanto educadores quanto educandos se sintam motivados enquanto sujeitos da construção de um coletivo de Educação Popular. 

METODOLOGIA
Tendo como referente a Educação Popular e, principalmente o educador Paulo Freire,  busca-se, assim, a valorização das pessoas, seus pensamentos, e suas necessidades. Procura-se, portanto, por uma melhor condição de vida, promovendo, além das aulas ministradas, ações pedagógicas, oficinas, painéis e debates, que unem tanto educando como educadores, assim como os movimentos sociais, que reforçam a solidariedade, o ensino, a cultura e o desenvolvimento intelectual. Nessa transversalidade, podemos reconhecer o outro e, o outro reconhecer a si próprio. Essas vivências vão além da sala de aula, pois legitimam outros espaços “politicamente educativos, aonde estudantes universitários, principalmente dos cursos de licenciaturas, encontram uma base de reflexão e prática comum, fundada na prática da sua docência” (OLIVEIRA, 2006, p. 131). Dessa maneira o Práxis deve ser visto com um espaço de experimentação e de constante diálogo entre teorias e práticas educacionais, no qual os acadêmicos têm a possibilidade de colocar em prática as diversas teorias pedagógicas que são expostas nos variados cursos de licenciatura da UFSM.

RESULTADOS
Ao longo de mais de uma década, o Práxis vem oportunizando para centenas de pessoas de todas as idades, a ingressarem na Universidade Federal de Santa Maria, através dos esforços conjuntos entre educadores e educandos. E mais do que isso, tem possibilitado a homens e mulheres o resgate de sua auto-estima, construindo com muitos a realização de sonhos. Sonhos onde o negro, o índio, o velho, o estrangeiro e o branco pobre possam ser verdadeiramente reconhecidos e valorizados individualmente, para que socialmente possam potencializar pensamentos e atitudes para melhorar continuamente suas relações sociais e inter-pessoais, assim como ampliar seus horizontes intectuais. Nestes onze anos, o questionamento e a produção acerca de educação vêm sendo pautados e trazendo resultados a todos os envolvidos com o projeto, pois o espaço para o debate entre as diversas áreas do conhecimento é fértil e transformador. Ali, anseios surgidos na prática educacional fazem com que a teoria seja buscada e problematizada amplamente, o que auxilia, por fim, a capacitar melhor o educador para o futuro.

CONCLUSÃO
Nessa legitimação que damos ao coletivo popular, existe a reflexão, a análise, assim, a oportunidade de experiência e de trocas e vivências entre todos que o mantém. Cresce o papel do educador não só como mediador do conhecimento, mas, também como facilitador das relações que se estabelecem entre o mundo acadêmico e o senso comum. Esse processo tem se fortalecido política e pedagogicamente. Desta maneira, podemos afirmar que as experiências coletivas, que são caracterizados pela diversidade dos indivíduos que ali circulam, fortalecem as “relações sociais comprometidas com a emancipação individual e coletiva” (OLIVEIRA, 2006, p. 16). Problematizar o conhecimento e a educação se faz necessário a todo o educador comprometido com o objeto de seu ensino e com o educando que está em sala da aula. Espaços como o Práxis possibilitam este movimento, onde a potencialidade dos educadores se dá para além da Universidade, tornando-os mais capazes para sua futura profissão, pois assim experenciam, na prática, aspectos que antes estavam apenas na teoria, nos quais, então, a pesquisa se faz necessária perante seus questionamentos, a fim de buscar soluções coerentes com a educação. Podemos concluir que espaços como o Práxis – Pré-Vestibular Popular se constituem enquanto espaços privilegiados de trocas de experiências, de construção de relações sociais que possibilitem a contestação desta ordem social vigente.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Existe fórmula para a Educação Popular?


Texto produzido por:
Marcelo Noriega.
Coordenador do Grupo de História do Práxis.



Povo: ... Que trabalho você executa na sociedade?
Classe Privilegiada: Nenhum: não fomos feitos para trabalhar.
Povo: Como então adquiriam sua riqueza?
Classe Privilegiada: Assumindo a tarefa de governar vocês.
Povo: Governar a nós! ... Nós nos esgotamos, e vocês se divertem; nós produzimos e vocês dissipam; a riqueza flui de nós, e vocês a absorvem. Homens privilegiados, classe 
 distinta do povo, formem uma nação à parte e governem-se a si mesmos.[1]       

 Ultimamente uma questão tem me chamando à atenção, esta questão versa sobre o papel que a Educação Popular deve assumir em um cenário onde a luta de classes vem recuperando o peso que sempre deveria ter ocupado. Desde já gostaria de afirmar que não acredito que a luta de classes deixou de ser o motor da História da humanidade, mas reconheço o sucesso que os defensores da ideologia neoliberal alcançaram no sentido de pregar que a realidade estava dada e que as mobilizações populares eram coisas do passado fruto da influência de “esquerdistas” deslocados do tempo e espaço. Graças a atuação destes ideólogos de cunho neoliberal foi-se formando uma ideologia de tipo senso comum onde não haveria mais espaço para mobilizações e lutas populares.  
A principal contribuição que as recentes mobilizações de estudantes e trabalhadores em países como Espanha, Grécia, Inglaterra, Chile, Egito, Síria e até mesmo Israel é de que a luta de classes novamente está na ordem do dia, demonstrando assim que os ideólogos do fim da História nunca estiveram tão equivocados e desatualizados.
Tendo em vista toda esta conjuntura gostaria de lançar alguns elementos sobre o papel que acredito a Educação Popular deva exercer em uma conjuntura onde a ordem vigente passa a ser questionada de forma a ameaçar a hegemonia dos antigos países tidos como centrais no jogo de tabuleiro do poder internacional. Acredito que a Educação Popular deve realmente assumir o seu papel de Movimento Social, mas o que isso realmente significa? Significa que os diversos projetos que se pretendem como construtores da Educação Popular só exercerão papel realmente popular se fizerem coro às reivindicações e anseios da classe trabalhadora, creio que se a Educação Popular não assumir este papel estará apenas contribuindo para a manutenção da lógica capitalista excludente.
Penso que a Educação Popular possui possibilidades muito grandes no sentido de construir espaço de trocas e intercâmbio de ideias e experiências entre o mundo acadêmico e o mundo do trabalho. Trazendo mais precisamente para o nosso querido Práxis - Coletivo de Educação Popular percebo que temos uma oportunidade de tentar construir um espaço realmente democrático que possibilite a contestação de um conjunto de lógicas sociais, educacionais e políticas que decididamente estão em desacordo com o projeto de sociedade que sonhamos construir.
Para que a Educação Popular consiga exercer este papel que tanto sonhamos é necessário que tenhamos em mente a necessidade de construir um espaço onde todos se sintam construtores do projeto, por isso que os projetos de Educação Popular devem ser pensados como espaços de radicalização democrática. Trazendo novamente para o nosso projeto, percebo que este possui uma diversidade muito grande de educadores. Cada um desses educadores está no Práxis por objetivos diferentes, seja por experiência para conseguir trabalho em cursinhos, fazer filantropia ou mesmo movidos pela vontade de questionar e superar a ordem vigente. É partindo deste ponto que pretendo responder ao questionamento que lancei no título deste breve texto, acredito que o único caminho para que a Educação Popular assuma seu viés social de questionamento à ordem vigente é o de caminhar rumo á radicalização democrática.
Em se tratando de termos práticos acredito que não existem fórmulas prontas e acabadas para os diferentes projetos que se pretendem enquanto executores da Educação Popular. Podemos perceber que os diversos projetos do Movimento de Educação Popular exercerão ações político-pedagógicas diferenciadas, porém acredito que não se deve perder o objetivo principal de se construir espaços onde a democracia real seja uma prática diária. Respondendo especificamente apo questionamento principal deste texto acredito que não exista uma receita específica para que a Educação seja realmente, Popular, mas sim um caminho: o caminho da radicalização democrática fomentando assim a luta de classes como motor da superação da ordem vigente.
         


[1] Trecho da obra “As Ruínas” de Volney. Disponível na obra de THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. A árvore da liberdade. (Vol. I). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p, 107.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Relato e Impressões sobre o encontro dos Professores do EJA realizado no dia, 03 de julho, no Instituto São José.



Texto produzido por:
Marcos Britto Corrêa
Acadêmico do curso de Licenciatura em Filosofia da UFSM
Coordenador do Práxis – Coletivo de Educação Popular



No dia 3 de Agosto estivemos mediando um grupo de debates - entre seis outros que também foram formados - sobre a Diversidade de Sujeitos na EJA, encontro promovido pela Coordenadoria Regional de Educação. Neste dia estiveram Marcelo, Lucas, Camile, Lorena, Samuel, Alith e eu (Marcos), junto com mais de duzentos professores de EJA e grupos da sociedade civil ligados a educação de jovens e adultos. Em uma tarde, muitos assuntos importantes foram levantados, muitas questões que dizem respeito a nós praxianos foram colocadas em destaque, e, portanto me fizeram pensar minha (nossa) prática no Práxis
No semestre passado li uma frase sobre educação de um autor chamado Alejandro Cerletti que trata sobre ensino de filosofia; o que li me fez repensar todos os anos de aluno que vivi, e que ainda vivo e a discordar, em parte, de sua posição. A frase é mais ou menos esta: “Se é como professor, boa parte do que se foi como aluno”. Bom; se interpretá-la literalmente não há como eu, péssimo aluno na escola e em minha graduação, acreditar que um dia serei um bom professor, desta forma o que ele fala me parece uma grande besteira. No entanto prefiro pensar que ele se refere a minha posição subjetiva e critica como aluno a não concordar com o tipo de educação que recebia e que ainda recebo, então assim, referente à minha atual e constante tentativa de não me tornar o tipo de professor que tanto critico, sou (ou tento ser) exatamente como educador o aluno que fui, pois o envolvimento que tenho com o conhecimento não é de apreensão, mas sim de vivência, de experiência. Onde a relação subjetiva que se tem com o objeto de ensino e o envolvimento do educando com ele são o que definem um bom ensino.
De certa forma o que digo acima não é “meu”, tem um pouco de Paulo Freire, Nietsche, Foucault... E sem dúvida, faz parte de você que esta aí lendo; faz parte da maioria dos professores que estiveram no encontro de quarta-feira e de muita gente envolvida com educação, mas o discurso que mais ouvi lá foi contrário a este, pois a maior parte dos problemas levantados diz respeito ao aluno e sua “má” vontade em aprender. Por que ainda dizemos que os alunos não querem aprender? Que os alunos não têm objetivo na vida? Que os mais jovens não respeitam os mais velhos, pois não ligam a mínima para a aula? Então me pergunto, por que transferimos boa parte de nossa responsabilidade aos alunos; a modernidade; a mídia...?
Minha experiência como educador é mínima, mas como aluno já passam dos dezesseis anos em sala de aula e cada vez mais vejo como a relação do senso comum com o conhecimento científico é difícil se não for bem mediada. O que nos cabe no Práxis? Qual o nosso maior problema? Sem dúvida acredito que o maior dos nossos problemas é a evasão, assim como pude perceber com todos que trabalham com um público do EJA. O que gostaria de fazer é expor um pouco o penso sobre esta questão, queria poder dividir com vocês o que me causa aflição e assim poder dividir alguns pensamentos.
Primeiramente devemos ter consciência de nosso público, pois mesmo que tenha mudado ao longo de quase doze anos de trabalho, ainda continua sendo preenchido por uma parcela da população que esta “fora” do grupo que tem “naturalmente” acendido as universidades. Conosco encontramos trabalhadores, alunos de ensino médio, estrangeiros, pessoas com necessidades especiais e de todas as partes de Santa Maria e região, isto é claro, óbvio; todos sabemos que são na maioria alunos de baixa renda e assim como nós, com inúmeras dificuldades que a cada dia impedem sua presença no Práxis. Entretanto assim como em qualquer escola de EJA, ou em qualquer cursinho de pré-vestibular popular, o público não é composto somente por pessoas marginalizadas socialmente, mas acima de tudo o que os levou até ali, estando já, com idade avançada, muitas vezes com família e filhos já maiores de idade, tendo que trabalhar basicamente para garantir seu sustento é o ensino público, é o ensino básico, defeituoso e incapaz de suprir as necessidades dos alunos que ali estão, onde acaba por tornar ainda mais gritante a marginalização que uma educação de má qualidade é capaz de criar em um país.
Nos últimos anos o Práxis começou seus trabalhos com cento e vinte alunos inscritos no inicio do ano, sendo que no fim, próximo ao vestibular restam em média quarenta alunos; no EJA o número de evadidos, segundo o que percebi no encontro de quarta-feira, não é tão diferente. Mas então, o que há com estes alunos que mesmo mais maduros e conscientes das necessidades de estudar desistem? Muitos dos professores com quem falei acreditam que o problema esta relacionado ao trabalho, e as inúmeras dificuldades que cada individuo passa e cujo, nunca saberemos ao certo como cada um se relaciona com isso. Dificuldades ordinárias todos têm, no entanto quando há algo que nos parece valer a pena não desistimos e nos dedicamos acima de qualquer problema, deste modo não penso que isto seja o limitante para um aluno de EJA ou do Práxis. Porém como disse anteriormente, esse aluno passou uma experiência de ensino e consecutivamente de vida, que não corresponderam a suas expectativas, por isso precisaram deixar a escola, trabalhar e garantir que suas necessidades básicas fossem sanadas, para só então voltarem a estudar, pois logicamente ninguém estaria lendo Kant ou fazendo estudos em Biologia de barriga vazia em uma casa de um cômodo onde as frestas na parede deixam todo o frio entrar.
Temos então um aluno no qual o ensino tradicional e a escola não serviram que não lhe “atraiu” e não foi capaz de respeitar suas individualidades e principalmente dificuldades. Pois bem; ao falar desta maneira me parece que estou selecionando um grupo de pessoas e dizendo que a educação não serve a eles ou que, eles não servem a ela, no entanto não se trata disso, pois sabemos que nem para jovens de classe média, com a idade desejada para cursar a série que estão cursando, não aceitam um ensino tradicional.
Aqui critico o ensino Tradicional e todo o objetivo ao qual ele serviu por muito tempo, no entanto ainda fazemos isso em sala de aula, ainda esperamos que nossos alunos “apreendam” o conteúdo para o vestibular e eles próprios, ao reclamar de uma aula tradicional, pedem “aula” quando o professor muda sua prática.
A inculcação de um arbitrário cultural define o “movimento” de uma sociedade, acaba por definir as ações mais cotidianas dos indivíduos que a compõe, o que por sua vez, mascara praticas que parecem ser naturais, mas que na verdade não passam de um condicionamento. Exemplo disso é a maneira com que uma sala de aula é organizada ou então, pensarmos que a felicidade reside em bens materiais em um frenético fetiche de produtos que permeia até mesmo nossas escolhas mais simples e particulares. Mudar este tipo de paradigma é uma tarefa difícil, pois mexe com a segurança de todas as pessoas; de certa forma, nossas tradições nos dão um tipo de apoio, onde nos sentimos seguros e incapazes de deixá-las. Com a educação não é diferente, séculos fazendo algo da mesma forma, parece determinar que ele sempre foi, e deverá ser assim.
O EJA carrega consigo esta dificuldade. Como ensinar para alguém que passou da idade de estar na escola, que trabalha o dia todo e que já não tem a mesma facilidade de assimilar novos conhecimentos como os mais jovens? Esse é o nosso desafio, por ser diferente nos obriga mudar, a repensar nossas ações e a relação que o conhecimento adquirido na universidade tem com a sociedade ao qual ele serve. Conhecer o sujeito com quem trabalhamos ver nele as mesmas características que vemos em nós e acima de tudo, ter empatia para com ele; ter a mesma empatia que temos por um personagem de filme, pois vivemos a ação dele como se fosse a nossa, e mesmo muitas vezes não concordando com ela, respeitamos, pois dividimos com ele nossas próprias tensões e expectativas. Esta dificuldade nos obriga a pensar novas maneiras de ser educador, pois somente isto faz com que melhoremos algo, caso contrário ser professor seria o mesmo que trabalhar em uma montadora de automóveis, pois ali cada peça tem seu lugar certo, e há uma maneira testada e atestada para montar um carro de forma rápida e perfeita.
Pensar novas práticas em sala de aula é obrigação de qualquer professor, mas o público de EJA com a qual trabalhamos nos obriga a ser ainda mais criativos. Penso que antes de ser um problema a resolvermos, ele é o motor que nos faz pensar diferente, criar e praticar o ensino de maneira diversa, respeitando outros paradigmas, que não são os mesmo de há alguns anos atrás. Nesta perspectiva se fala muito em interdisciplinaridade, no entanto pouco fazemos para que ela ocorra e pouco sentamos juntos para pensá-la. Teoricamente falando a interdisciplinaridade é muito simples, é só pensarmos, por exemplo, no ciclo do Nitrogênio e na sintetização da Amônia, elementos fundamentais para a agricultura, que possibilitam a produção em larga escala de alimentos. A partir da Química relacionamos com a Biologia, referente à absorção dos nutrientes pelas plantas; logo após com a História e a Geografia tratando a importância que a agricultura teve e tem para nossa sociedade; então entra a Filosofia ao problematizar a distribuição dos alimentos e a relação de poder que há neste processo, assim como podemos ligar a Matemática para explicar os complicados cálculos utilizados para que uma semeadora de grãos distribua corretamente determinada cultura em uma lavoura. Neste sentido que a unidade de pensamento e o trabalho conjunto são fundamentais para uma boa educação.
No Práxis temos esta dificuldade, como mudar? Como nos aproximarmos mais de nossos alunos afim de que estes se sintam acolhidos como nunca foram em nenhuma escola e mesmo na sociedade? Sem dúvida  o pouco que escrevi aqui não soluciona problema algum, não mudará nada no ensino, mas mudou em mim, e assim como o diálogo que tive com aqueles professores na quarta-feira e que tenho todos os dias com nossos colegas no Práxis vem mudando constantemente, desta forma a troca diária de conceitos que temos uns com os outros define nossas ações em um ciclo que só pode acontecer se houver humildade e coletividade em nossos atos.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Práxis e a subversão da ordem.

Texto produzido por:
Marcelo  Noriega Pires .
Acadêmico do Curso de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Coordenador do   Grupo de História do Práxis - Coletivo de Educação Popular  da UFSM.

"A utopia está lá no horizonte.

Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.

Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?

Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."

Eduardo Galeano.


Para poder iniciar esta breve consideração gostaria de colocar alguns pontos que acredito serem de extrema importância para o entendimento da minha proposta.
Primeiramente quando falamos em subverter a ordem é necessário que resgatemos um pouco da trajetória de lutas do Práxis-Coletivo de Educação Popular. Desde a sua fundação o Práxis tem buscado formas de subverter a ordem da estrutura universitária. Afinal qual outro projeto, seja de ensino, pesquisa ou extensão é gestado totalmente pelos próprios acadêmicos? Apenas este fato nos serviria para compreendemos um pouco daquilo que pretendo exemplificar como a Educação Popular como oportunidade de superar esta ordem capitalista excludente.
Mas a atuação do Práxis não se limita apenas ao questionamento da estrutura universitária, o projeto se tornou referência não só como exemplo de Pré-Vestibular Popular que se mantém há mais de uma década graças ao esforço hercúleo de tantos acadêmicos e trabalhadores que de uma forma ou de outra deixaram a sua contribuição para a manutenção do projeto. O Práxis esteve presente e ainda estará por muito tempo nas diversas lutas promovidas por grupos que descontente com esta lógica excludente.
É neste sentido que gostaria de pautar a parte final de minha breve contribuição. Estamos em um momento onde a luta de classes está novamente ocupando papel de destaque no cenário mundial, não é por acaso que ocorreram e continuam ocorrendo conjunto de Revoltas no Mundo Islâmico, revoltas e estudantes e trabalhadores em países como Espanha, Grécia, Inglaterra. Somasse a isso a inesgotável crise norte-americana, os tradicionais conflitos na França, revolta popular em Israel e também por que não dizer a crescente insatisfação dos diversos ramos do serviço público brasileiro.
Toda esta efervescência de lutas contraria aquilo que muitos teóricos como Fukuyama que afirmaram que com a queda União Soviética a luta de classes e consequentemente a História havia chegado ao seu fim, não restando a nós outra alternativa que não fosse “dançar conforme a música” do Capitalismo Neoliberal estadunidense
Para finalizar gostaria de afirmar que aqueles que ainda se atrevem a pregar que a realidade está dada e que não existe alternativa para a superação das mazelas que afligem a sociedade atual jamais poderão contar com a concordância dos lutadores  e lutadoras que contribuem direta e diariamente para a construção do Práxis- Coletivo de Educação Popular.  


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Metodologia em Silvio Gallo.


Texto produzido por:
Lorena Miranda 
Acadêmica de Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Coordenadora do Práxis - Coletivo de Educação Popular da UFSM.


Esse caminho se faz necessário por via da contextualização histórico-filosófica que tem o objetivo, através do assunto ou tema tratado, atingir os alunos por meio da sensibilização, pois esse olhar deleuziano do aprendizado nos diz que “a racionalização dos problemas e do próprio aprendizado é sempre um momento posterior” (ASPIS/GALLO, 2009 pg.69).Dessa forma nos fornecendo subsídios para que entendamos que o professor necessita de determinados mecanismos, “que faça a mediação com seus alunos, para que esses possam começar a filosofar” (ASPIS/GALLO, 2009, pag. 71), e assim que de alguma maneira sua aula flua espontaneamente e ao mesmo tempo em que seus objetivos sejam atingidos. O destaque para o método de ensino tem sido muito discutido em praticamente todos os meios acadêmicos.
   A de se considerar alguns caminhos que um professor de filosofia pode desenvolver em sua sala de aula, partindo primeiramente na escolha do tema tratado. Aqui já adianto pelas perspectivas desenvolvidas pelo professor Silvio Gallo deverá compreende um trajeto onde o Ensino de Filosofia é visto como uma pedagogia do conceito, sendo que numa aula poderá ser estabelecida através de quatro momentos didáticos, a saber: sensibilização, problematização, investigação e conceituação.
   Entretanto, antes de dar continuidade a questão acima, proponho a fazer um breve esclarecimento do que seria essa pedagogia do conceito, ou oficina de conceitos, pois “a filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos” (Guattari, 1992, pag. 10-13), ou seja, proporcionar uma atmosfera onde os conceitos são criados e experimentados, onde o aluno possa sentir-se envolvido no movimento do seu próprio pensar
   Projetado minimamente o que seria uma oficina de conceito, adentro nos estágios formulados pelo professor Silvio Gallo, a saber:
   Primeiro: sensibilização – lança-se um determinado tema ou assunto, que de preferência tenha haver com o cotidiano do aluno, como a liberdade, o amor, a amizade, dilemas morais e assim por diante, onde podemos usar de uma ferramenta áudio visual, como o cinema, ou mesmo um poema, uma letra de música que aborde sobre o assunto escolhido.
   Segundo: problematização – partindo do assunto escolhido, o professor orientará para que esse elabore perguntas, que podem partir do senso comum do aluno. Que ele faça relações do assunto tratado com seu dia-a-dia e ao sentir-se instigado, possa perceber que isso (ou seja, o tema tratado) tem haver com a filosofia, com a vida.  Dessa maneira promovendo um pensar por si próprio a respeito do tema escolhido, com isso possa avançar para uma formulação de cunho filosófico, que permitirá ir para o estagio seguinte.
   Terceiro: investigação - nesse estágio requer que o aluno já esteja envolvido e interessado em pensar respostas ao tema escolhido. Todavia, já nessa fase é o momento de incorporar textos ou exercícios, relacionados ao tema proposto, e que por meio destes, mostra-lhes, as várias abordagens desse mesmo assunto.  Pois é a partir de vários problemas diagnosticados que ele tenderá a resolver a questão. Partir de uma pergunta para o qual ele mesmo sentirá necessidade da resposta. Para finalizar vamos para o ultimo estágio:
   Quatro: conceituação – no movimento que seu pensar fez na investigação, instigado por uma ou várias respostas, que partiu de seu senso comum. Pois na problematização ele inferiu determinadas questões que o instigaram ao longo dos estágios, deverá, levá-lo, com o esmiuçamento do tema proposta, naturalmente a criar argumentações filosóficas do entendimento que obteve, ou seja, motivado por sua criatividade, pela explicação que foi dado no texto ou exercício filosófico que fez, e mesmo sensibilizado pela proposta oferecida, tenderá a promover um tipo de pensamento autônomo em torno do problema - uma conceituação - que não é definitiva, mas que naquele momento o incentivou a criar esse conceito pelo seu pensamento próprio, mas que é
o resultado fundamentado que os estágios proporcionaram ao aluno.
   A metodologia dos quatro momentos que foi brevemente explicada, obviamente não dá conta, de todas as dificuldades que tem um professor, ao formular estratégias para uma boa aula de filosofia.  Mas, contudo são excelentes práticas que todos nós, futuros educadores podemos, e, devemos experimentar. Os estágios ou momentos apresentados também são um caminho propício que nos levará a uma avaliação do conteúdo apreendido pelo aluno. Tema esse que será abordado pelo outro grupo de estudos em avaliação.

Referencias Bibliográficas:

ASPIS, Renata Pereira Lima; GALLO, Silvio. Ensinar Filosofia - um livro para
professores
.  
São Paulo: Atta Mídia e Educação, 2009.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? Trad. Bento Prado
Jr. e Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992, p.10-13.