quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Existe fórmula para a Educação Popular?


Texto produzido por:
Marcelo Noriega.
Coordenador do Grupo de História do Práxis.



Povo: ... Que trabalho você executa na sociedade?
Classe Privilegiada: Nenhum: não fomos feitos para trabalhar.
Povo: Como então adquiriam sua riqueza?
Classe Privilegiada: Assumindo a tarefa de governar vocês.
Povo: Governar a nós! ... Nós nos esgotamos, e vocês se divertem; nós produzimos e vocês dissipam; a riqueza flui de nós, e vocês a absorvem. Homens privilegiados, classe 
 distinta do povo, formem uma nação à parte e governem-se a si mesmos.[1]       

 Ultimamente uma questão tem me chamando à atenção, esta questão versa sobre o papel que a Educação Popular deve assumir em um cenário onde a luta de classes vem recuperando o peso que sempre deveria ter ocupado. Desde já gostaria de afirmar que não acredito que a luta de classes deixou de ser o motor da História da humanidade, mas reconheço o sucesso que os defensores da ideologia neoliberal alcançaram no sentido de pregar que a realidade estava dada e que as mobilizações populares eram coisas do passado fruto da influência de “esquerdistas” deslocados do tempo e espaço. Graças a atuação destes ideólogos de cunho neoliberal foi-se formando uma ideologia de tipo senso comum onde não haveria mais espaço para mobilizações e lutas populares.  
A principal contribuição que as recentes mobilizações de estudantes e trabalhadores em países como Espanha, Grécia, Inglaterra, Chile, Egito, Síria e até mesmo Israel é de que a luta de classes novamente está na ordem do dia, demonstrando assim que os ideólogos do fim da História nunca estiveram tão equivocados e desatualizados.
Tendo em vista toda esta conjuntura gostaria de lançar alguns elementos sobre o papel que acredito a Educação Popular deva exercer em uma conjuntura onde a ordem vigente passa a ser questionada de forma a ameaçar a hegemonia dos antigos países tidos como centrais no jogo de tabuleiro do poder internacional. Acredito que a Educação Popular deve realmente assumir o seu papel de Movimento Social, mas o que isso realmente significa? Significa que os diversos projetos que se pretendem como construtores da Educação Popular só exercerão papel realmente popular se fizerem coro às reivindicações e anseios da classe trabalhadora, creio que se a Educação Popular não assumir este papel estará apenas contribuindo para a manutenção da lógica capitalista excludente.
Penso que a Educação Popular possui possibilidades muito grandes no sentido de construir espaço de trocas e intercâmbio de ideias e experiências entre o mundo acadêmico e o mundo do trabalho. Trazendo mais precisamente para o nosso querido Práxis - Coletivo de Educação Popular percebo que temos uma oportunidade de tentar construir um espaço realmente democrático que possibilite a contestação de um conjunto de lógicas sociais, educacionais e políticas que decididamente estão em desacordo com o projeto de sociedade que sonhamos construir.
Para que a Educação Popular consiga exercer este papel que tanto sonhamos é necessário que tenhamos em mente a necessidade de construir um espaço onde todos se sintam construtores do projeto, por isso que os projetos de Educação Popular devem ser pensados como espaços de radicalização democrática. Trazendo novamente para o nosso projeto, percebo que este possui uma diversidade muito grande de educadores. Cada um desses educadores está no Práxis por objetivos diferentes, seja por experiência para conseguir trabalho em cursinhos, fazer filantropia ou mesmo movidos pela vontade de questionar e superar a ordem vigente. É partindo deste ponto que pretendo responder ao questionamento que lancei no título deste breve texto, acredito que o único caminho para que a Educação Popular assuma seu viés social de questionamento à ordem vigente é o de caminhar rumo á radicalização democrática.
Em se tratando de termos práticos acredito que não existem fórmulas prontas e acabadas para os diferentes projetos que se pretendem enquanto executores da Educação Popular. Podemos perceber que os diversos projetos do Movimento de Educação Popular exercerão ações político-pedagógicas diferenciadas, porém acredito que não se deve perder o objetivo principal de se construir espaços onde a democracia real seja uma prática diária. Respondendo especificamente apo questionamento principal deste texto acredito que não exista uma receita específica para que a Educação seja realmente, Popular, mas sim um caminho: o caminho da radicalização democrática fomentando assim a luta de classes como motor da superação da ordem vigente.
         


[1] Trecho da obra “As Ruínas” de Volney. Disponível na obra de THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. A árvore da liberdade. (Vol. I). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p, 107.

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