segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A Educação Popular e o Combate ao "estranhamento" do Trabalho.


Texto produzido por: Marcelo Noriega.
Licenciado e Bacharel em História pela UFSM.
Coordenação do Práxis.

Não sois máquinas!
Homens é que sois!


Para que possa passar a mensagem que pretendo com mais esta contribuição é necessário que faça um breve resgate da literatura marxista sobre o tema que proponho a reflexão a seguir: o tema em questão é o estranhamento do trabalho, colocado aqui sem aspas para explicitar o seu sentido concreto segundo os ideólogos marxistas. Desde já me coloco como tributário da ideologia marxista, por acreditar que esta é a única capaz de explicar a sociedade capitalista e propor a superação da mesma.
Entrando mais precisamente à definição do termo estranhamento do trabalho gostaria de resgatar conceitos marxistas clássicos sobre a temática. Segundo a elaboração desenvolvida por Marx e Engels podemos definir o estranhamento do trabalho como a incapacidade de o trabalhador em se diferenciar do fruto de seu trabalho, ou seja, o trabalhador-proletário acaba não se diferenciando da estrutura fabril não reconhecendo o que foi produzido como fruto de seu trabalho. Desta forma o trabalhador acaba por negar a sua essência enquanto homem e acaba por se compreender mais como uma parte da engrenagem do que como um ser humano. O filme de Charles Chaplin “Tempos Modernos” nos mostra como que esta relação pode chegar ao extremo de não o homem operar a máquina e sim a máquina operar o homem.
Trazendo um pouco para o cotidiano do Rio Grande do Sul podemos perceber esta relação de estranhamento do trabalho inclusive nas relações produtivas mais tradicionais como a relação entre os peões de estância e a estrutura produtiva rural. Conversando recentemente com um trabalhador rural percebi que os peões, a exemplo dos operários fabris, também acabam por negar a sua essência enquanto seres humanos e acabam por se sentir como extensão do cavalo, como mais um animal do trabalho campeiro.
Se não analisarmos esta problemática com a devida atenção poderá se cair no equívoco de culpabilizar os próprios trabalhadores pela perda de sua essência de seres humanos, mas se analisarmos mais precisamente as relações sociais da sociedade capitalista perceberemos que toda a estruturação desta está voltada para que cada vez mais os trabalhadores se sintam apenas como um pedaço de uma engrenagem e não como seres humanos.
Não podemos deixar de citar que vivemos em uma etapa do Capitalismo onde a crescente precarização do trabalho tem sido uma realidade cada vez mais presente, portanto quanto mais os trabalhadores cumpram os seus deveres de forma mais eficiente, produtiva e barata melhor. É necessário que analisemos que esta estrutura não se reproduz por si só e que a mídia exerce um papel muito grande na manutenção e reprodução desta conjuntura. Poderíamos então citar o papel dos grandes conglomerados de comunicação como Grupo RBS, Globo e o “santificado” grupo Record. Vale lembrar que todos estes conglomerados estão presentes nas diversas mídias, comprovando assim que o monopólio da comunicação é uma verdade gritante e inconveniente em nosso país. Além disso, gostaria de rememorar o papel que não só o grupo RBS exerce no Rio Grande do Sul, mas que também entidades como o MTG e mesmo a literatura produzida sobre as relações e o papel do peão de estância. Onde este é apresentado como sendo o “centauro dos pampas”, sendo um ser bestializado que não se diferencia do seu pingo.
Podemos perceber que existe uma grande estrutura midiática voltada para garantir a reprodução da ordem vigente (termo que gosto de utilizar para definir não só a estruturação econômica capitalista, mas também todo seu aparato ideológico). Romper com esta lógica é uma necessidade cada vez mais urgente e necessária, pois se analisarmos a questão ambiental perceberemos que esta lógica de acumulação capitalista é cada vez mais insustentável.
Tendo em vista o que afirmei, qual deve ser o papel que a Educação Popular deve assumir nesta conjuntura de lutas cada vez mais necessárias? Acredito que a Educação, que se pretende, Popular deve assumir um papel de protagonista na construção de relações que visem a superação da ordem vigente. O espaço de relações dos diversos projetos de Educação, que se pretende, enquanto Popular se constituem em espaços privilegiados onde acadêmicos e trabalhadores interagem realizando trocas entre experiências de vida grandemente diversificadas.
Para que os projetos de Educação Popular realmente atinjam o êxito que seus executores almejam é necessário que não se desconsidere o enorme potencial que estes espaços de convivência possuem. Acredito que para que haja o aproveitamento de todo este potencial é necessário que exista de fato espaços democráticos entre educadores e educandos, rompendo assim com as velhas hierarquias entre professor e aluno. Estrutura esta de disciplinamento que acaba por se repetir nos diversos setores da estrutura capitalista. Além disso, a Educação Popular fomentar e participar dos debates promovidos por lutadoras e lutadores que pretendem construir espaços de economia não capitalista, como os diversos fóruns de Economia Solidária que cada vez mais acontecem no Brasil. O que não significa que necessariamente que os projetos de Educação Popular deverão construir experiências de Economia Solidária, mas que dentro da lógica de radicalização democrática e questionamento da ordem vigente é necessário que os referidos projetos realizem debates internos sobre a validade das práticas de Economia Solidária, para que ao menos haja uma posição e apoio das iniciativas de Educação Popular ás ações que visam a superação da ordem vigente. 

Um comentário:

Lara Hartz disse...
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